terça-feira, 16 de setembro de 2008

Projeto Cinema no Museu



A mostra trará cartazes e filmes de Fassbinder, depoimentos de diretores
internacionais sobre sua obra e a influência do diretor em seus trabalhos.

Programação:

13 setembro – sábado
18h00 O Medo Devora A Alma (93min.)
20h00 O Casamento de Maria Braun (120min.)

14 setembro – domingo
18h00 O Assado Satãnico (112min.)
20h15 O Desespero de Veronika Voss (104min.)

15 setembro - segunda-feira
18h00 Lola (113min.)
20h15 O Machão (88min.)

16 setembro – terça-feira
17h45 Martha (111min.)
19h45 Effi Briest (141min.)

17 setembro – quarta-feira
17h45 Lili Marlene (120min.)
20h00 Não quero apenas que vocês me Amem (103min.)

18 setembro – quinta-feira
19h00 O medo devora a alma
Após o filme palestra com Sergio Moriconi

19 setembro - sexta-feira
17h45 O casamento de Maria Braun (120min.)
20h00 Lola (113min.)


Serviço
Onde: Museu Nacional da República.
Quando: De 13 a 30/09.
Quanto: Entrada Franca.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

quarta-feira, 30 de julho de 2008

LEMINSKI VIVE

SINTOMAS

Paulo Leminski

- Doutor, estou sentindo uma rima terrível.
- Onde é que dói?
- Às vezes, é bem aqui no peito. Ás vezes, é uma pontada, aqui, na cabeça. - Quando eu não agüento mais, eu faço um poema.
- Um o quê?
- Um poema. É uma espécie de mancha que dá bem no meio da página. Tem umas apavorantes. Mas também tem manchas lindas.
- E desde quando lhe acontecem esses poemas:
- Desde sempre. Desde quando, antes do ventre da minha mãe, eu fui pensado em alguma galáxia distante, por um planeta boiando na luz de um sol azul-amarelo-vermelho-verde-prata...
- Deixe-me ver sua língua.
- O senhor não me leve a mal, mas é uma língua apenas portuguesa. Pouca gente no mundo já viu uma língua como essa.
- É, está feia sua língua. Mas não se incomode, que língua portuguesa ninguém presta atenção.
- Não é só a língua, doutor. Às vezes tenho visões.
- Visões?
- É, vejo círculos, quadrados, triângulos inscritos em hexágonos, e linhas, linhas, linhas...
- O senhor conhece matemática?
- Só de nome.
- É, é mais grave do que eu pensava.
- Vou morrer?
- Um dia vai. Mas antes vai ser pior. O senhor pode ficar famoso.
- Para sempre?
- Não, quando é para sempre a gente chama de glória. A fama passa.
- Ainda bem.
- Mas incomoda muito. Não tem horas em que o senhor sente que tem um estádio inteiro lhe aplaudindo de pé?
- Onde, doutor?
- Dentro da sua cabeça, é claro. Onde mais?
- Que alívio o senhor me contar isso. Pensei que estava ficando louco.
- Quem sabe? Quem sabe o que é loucura?
- Vá saber.
- Deixa eu completar os exames. Tem sentido muitos sintomas de concretismo ultimamente?
- Só quando vejo uma folha de letraset.
- Perfeito. Tem sentido algum soneto?
- Só de manhã, quando eu vou dormir de estômago vazio.
- Impulsos marginais?
- Depois que fui editado pela Brasiliense, meus sintomas marginais desapareceram. Deviam ser conseqüência do abuso da solidão e do provincialismo paroquial.
- Nada de pornô, espero.
- Um filha-da-puta aqui. Um caralho ali. Cabaço. Gozar. Só essas coisinhas corriqueiras, que vovó não deixava dizer, mas estão no Aurélio.
- Entendo. Não admira que o senhor tenha tido tantos poemas recentemente. Mas vou receitar uma dieta que vai lhe deixar tão bom quanto qualquer subgerente de vendas.
- Antes disso, será que o senhor não me deixava cantar alguma coisa?
- Cantar? Mas eu não tenho nada aqui para o senhor cantar.
- Pode deixar que eu trouxe umas canções comigo.
- Cuidado. Cantar demais faz mal.
- Não se preocupe, doutor. Eu só vou cantar um pouquinho.
- Está bem. Pode começar.
- Desafinar um pouquinho, não ligue. É assim mesmo:

“Se houver depois da terra
e nessa estrela
a eterna primavera
pudera, tomara, que a vida quisera
que a gente se encontrara.
Procura vida fica,
Nosso amor mais louco,
Fica tudo muito mais bonito,
Fica a dita que faltou um pouco,
Se houver céu...
Se houver céu,
Como nessa vida não há,
A gente se achou bichinha
A gente se encontrará,
A gente se encontrará...”

- Letra e música suas?
- Letra e música.
- I see. Deixa-me ver. O senhor tem algum vício?
- Eu amo uma mulher chamada Alice.
- Há muito tempo?
- A vida toda.
- O senhor é o caso mais grave de poesia que eu já vi até agora. Preciso consultar uns colegas.
- O que é que eu faço doutor:
- Tome duas estrofes e me telefone amanhã cedo, sem falta.